PF evita comentar acusação de Ramagem sobre “indução ao erro” em inquérito
Ex-diretor da Abin e deputado federal afirma que mensagem envidada a Bolsonaro foi mal interpretada pela corporação policial; para os investigadores, trabalho se encerrou com os indiciamentos
Integrantes da Polícia Federal (PF) que participaram das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado evitam comentar os depoimentos dos réus no Supremo Tribunal Federal (STF). Para os investigadores, o trabalho da PF se encerrou com a representação policial e os indiciamentos.
O delegado da PF e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) questionou a atuação da corporação e acusou a representação policial de "indução ao erro".
Ele afirmou, em depoimento, que a PF omitiu o fato de que um texto enviado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por mensagem, tratava-se, na verdade, de um vídeo de audiência no STF. Ramagem considera que essa omissão "induziu ao erro" a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo.
"A Polícia Federal, no meu interrogatório, me apresentou uma mensagem de encaminhamento ao Presidente da República. E eu confirmei (...). Eu venho trazer para os senhores uma questão que eu acredito que aparentemente a Polícia Federal induziu ao erro a PGR e esse órgão, a Primeira Turma do STF", comentou Ramagem durante seu depoimento.
Em seguida, Moraes pergunta: "O senhor não encaminhou [a mensagem], então?".
"Encaminhei. Eu vou explicar o que é isso aqui. E o que eu vou contar para os senhores, eu declarei no interrogatório na Polícia Federal — e eles não colocaram no relatório da Polícia Federal. Essa mensagem que está aqui, ela está no relatório. Ela foi produzida em 16 de julho (...). O que diz a mensagem aqui? A mensagem, inclusive, é cortada. Não entendo por que é cortada, porque eu acredito que o início deve explicar o que eles não querem que se explicou", continua Ramagem.
O deputado federal justifica que o trecho é a transcrição de um vídeo e que avisou à PF.
"Isso é ipsis litteris, literal — por isso é fácil identificar — de um vídeo, de uma audiência, aqui no Pleno do Supremo Tribunal Federal, perante os ministros. Eu avisei na hora à delegada que estava me inquirindo: esse é um vídeo que eu encaminhei ao Presidente da República. (...) Essa é a única mensagem que eles dizem que eu enviei para alguém contra as urnas, só que eles esconderam essa informação — que se trata de um vídeo que está no YouTube, na internet", disse Ramagem.
O que diz o relatório sobre o trecho citado
Na representação da PF, o delegado aponta que, apesar de Ramagem negar ter encaminhado anotações contra as urnas eletrônicas ao ex-presidente, os investigadores verificaram que, em 16 de julho de 2021, houve o envio de uma mensagem que indica possíveis falhas no sistema eletrônico de votação.
Para a PF, o texto enviado a Bolsonaro é um trecho de um documento armazenado no computador de Ramagem, intitulado "Presidente TSE informa.docx". O envio foi feito para um contato salvo como "JB 01 8", que, segundo os investigadores, era o número de Jair Bolsonaro à época.