Celso Amorim defende a “paz possível” na guerra da Ucrânia
Assessor especial afirma que fim do conflito deve ar por negociações territoriais, provável veto de Putin à entrada de Kiev na Otan e impossibilidade da Europa garantir apoio “sem limites” a Zelensky

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, disse que o governo brasileiro defende a ideia de que é fundamental garantir o quanto antes a “paz possível” na guerra na Ucrânia – e que ela seria melhor do que buscar uma “paz ideal” que pode não chegar nunca.
Amorim reconheceu que isso aproxima o Brasil das posições gerais adotadas pelo presidente Donald Trump para a resolução do conflito, embora ele também diga que os Estados Unidos precisam deixar mais claras muitas de suas intenções.
Segundo ele, essa aproximação não acontece porque o Brasil e os Estados Unidos têm a mesma posição “filosófica ou ética”.
“Mas é porque é a paz possível. Não adianta você pensar só na paz ideal se ela não ocorrer nunca. Essa é uma paz possível que leva em conta naturalmente os interesses. E depois evoluções que podem prever um plebiscito daqui a dez anos, cinco”, afirmou Amorim, numa referência a uma decisão mais definitiva sobre eventuais partilhas de território.
O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu essas declarações pouco antes de voar de Moscou a Pequim, com a comitiva presidencial – e antes do anúncio do presidente russo Vladimir Putin de que está pronto para abrir negociações diretas com a Ucrânia para acabar com a guerra.
O presidente Lula discutiu com o próprio Putin propostas elaboradas por Brasil e China para tentar ajudar a acabar com a guerra.
O encontro entre os dois aconteceu na sexta-feira (9), em Moscou -- quando o líder brasileiro se colocou à disposição para ajudar nas mediações.
Amorim avalia que alguns fatores serão importantes em qualquer negociação para o fim do conflito.
Em primeiro lugar, os dois lados terão que chegar a algum tipo de compromisso territorial nas áreas invadidas pelos russos, como por exemplo, a Crimeia – anexada sem reconhecimento internacional por Moscou em 2014. Em outras palavras, a paz só será alcançada com uma barganha pelos territórios.
O diplomata também disse que Putin deverá vetar o ingresso da Ucrânia na Otan, a aliança militar ocidental.
Por fim, Amorim afirmou que a posição da Europa terá um papel fundamental num eventual processo de paz.
“Eu acho que a grande responsabilidade são dos europeus. Os europeus dão a impressão de que vão dar um apoio sem limites (à Ucrânia). E eu não creio que isso ocorrerá. Eu não tô dizendo nem que é certo, nem que é errado, mas eu não creio que isso ocorrerá”, disse, lembrando que a União Europeia tem enfrentado dificuldades para lidar com seus grandes assuntos internos como imigração e gastos sociais.