Uma das principais doenças infecciosas com maior risco de contaminação diante de enchentes é a leptospirose. Essa é uma doença infecciosa febril transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de vários animais, principalmente ratos, infectados pela bactéria Leptospira.
"As inundações trazem a água contaminada por Leptospira de bueiros e esgotos, que se misturam com a enxurrada e a lama, fazendo com que qualquer pessoa possa entrar em contato com a bactéria", afirma Alexandre Piva, infectologista e professor do curso de medicina da UNICID (Universidade Cidade de São Paulo) à CNN.
A Leptospira penetra na pele a partir de lesões, mucosa ou quando uma pessoa a longos períodos em água contaminada. Os sintomas da leptospirose podem incluir febre, dor de cabeça, dor muscular (principalmente na panturrilha). Em casos mais graves, pode levar à icterícia rubínica, hemorragia e comprometimento dos rins.
De acordo com Piva, os sintomas têm início entre dois e 30 dias após o contágio, com a maior parte dos casos ocorrendo entre sete e 14 dias. O tratamento deve ser feito com antibióticos da classe das penicilinas e, em casos de comprometimento renal, pode ser necessária a realização de diálise.
O Ministério da Saúde também alerta para o maior risco de dengue entre pessoas que estão nos locais afetados pelas inundações e enchentes. Isso acontece porque o mosquito da dengue, Aedes aegypti, tende a se proliferar em locais com acúmulo de água parada e suja. Esse cenário aumenta o risco também de Chikungunya e Zika, doenças que são transmitidas pelo mesmo mosquito.
No final de abril, a prefeitura de Porto Alegre decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue. Na época, a capital gaúcha tinha registrado 2.227 casos confirmados de dengue em 2024 e mais de 20 mil ocorrências suspeitas. As informações são de reportagem de Isadora Aires, da CNN.
Além da leptospirose e da dengue, o Ministério da Saúde alerta para o risco de propagação de outras doenças em decorrência da contaminação da água, como diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A, giardíase, amebíase e verminoses.
Devido aos entulhos e destroços causados pelas enxurradas e inundações, também há um maior risco de tétano, uma doença grave causada por uma bactéria que pode estar presente em objetos de metal, madeira, vidro ou em galhos e espinhos. Uma pessoa pode adoecer ao sofrer lesões por objetos contaminados.
Além disso, entulhos e destroços aumentam o risco de acidentes com animais peçonhentos, como escorpiões, cobras e aranhas. Em situações de desastres ambientes, esses animais costumam se abrigar em locais secos.
Caso encontre algum desses animais, a recomendação do Ministério da Saúde é entrar em contato com autoridades competentes, como bombeiros, polícia ambiental ou Unidade de Vigilância de Zoonoses.
Diante de um cenário de desastre ambiental, como ocorrido no Rio Grande do Sul, é importante tomar alguns cuidados -- quando e se possível -- para evitar a contaminação por bactérias e vírus causadores de doenças.
O infectologista Alexandre Piva recomenda para pessoas que estão na linha de frente do regaste das vítimas das enchentes, como profissionais e voluntários, o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual).
"Já para a população em geral, a recomendação é tentar permanecer o menor tempo possível nos ambientes afetados pelas inundações. Nos casos inevitáveis, é recomendável, assim que possível, retirar roupas e calçados molhados e higienizá-los [e a si próprio] com água e sabão", orienta o especialista. "Ao higienizar os locais afetados pela inundação, evite o uso de chinelos, pois o ideal é usar botas e luvas", acrescenta.
Em relação ao risco de doenças gastrointestinais causadas pela contaminação da água, o Ministério da Saúde recomenda que não sejam consumidos alimentos que tiveram contato com a água da inundação ou lama, incluindo alimentos embalados, enlatados ou alimentos perecíveis (como frutas, legumes e verduras). Se possível, a pasta também recomenda que se filtre ou ferva a água antes do consumo.
Já em relação à dengue, a recomendação é, assim que possível, eliminar os focos de dengue (objetos com água parada) e higienizá-los com água e sabão. Além disso, é importante usar repelentes nas áreas expostas do corpo — os produtos à base de DEET (N N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou de icaridina são os mais recomendados.