A pesquisa analisou dados de uma intervenção chamada GAIN-S (Geriatric Assessment-Guided ive Care Intervention), recomendada pelas diretrizes da Asco, para pacientes com 65 anos ou mais em diversos estados brasileiros. A proposta vai além do tratamento padrão ao oferecer cuidados personalizados com base em uma avaliação geriátrica.

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Segundo Cristiane Bergerot, psico-oncologista, líder nacional da especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas e líder do estudo, foram avaliados aspectos importantes da saúde de pacientes idosos com câncer metastático, como função física, cognição, humor, comorbidades, nutrição, polifarmácia [uso de mais de um medicamento recorrente] e e social.

Com base nos resultados dessa avaliação, uma equipe especializada e multidisciplinar -- com oncologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista e personal trainer -- elaborou e implementou intervenções personalizadas, com o objetivo de melhorar os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

"A avaliação geriátrica permitiu identificar vulnerabilidades que muitas vezes não são captadas em avaliações tradicionais", explica Bergerot à CNN. "Com isso, os profissionais puderam adaptar o tratamento oncológico de forma mais individualizada, considerando as necessidades e limitações dos pacientes", completa.

Segundo a especialista, o estudou mostrou que houve melhora significativa na compreensão do prognóstico por parte dos pacientes que participaram da intervenção — ou seja, eles aram a ter uma noção mais clara sobre a finalidade do tratamento e a expectativa de evolução da doença.

"Isso favoreceu uma tomada de decisão mais alinhada aos seus valores e objetivos, promovendo um cuidado mais centrado na pessoa", afirma Bergerot.

Com taxa de adesão de 93%, o estudo mostra que é possível implementar uma abordagem centrada em adultos com 65 anos ou mais mesmo em contextos desafiadores. A intervenção utilizou o questionário PAIS (Prognostic Awareness Impact Questionnaire), uma ferramenta validada e sensível a mudanças emocionais e comportamentais, permitindo avaliar com precisão como os pacientes se sentem e reagem frente às informações sobre seu estado clínico.

"Idosos com câncer têm características e necessidades muito distintas dos pacientes mais jovens. Eles frequentemente apresentam múltiplas comorbidades, fragilidade, risco de toxicidades e preferências de tratamento diferentes", observa Bergerot. "Uma abordagem como a do GAIN-S reconhece essa heterogeneidade e permite um cuidado mais personalizado, que não apenas melhora os desfechos clínicos (como função física e humor), mas também promove autonomia, segurança no tratamento e maior alinhamento com os valores dos pacientes", completa.

Segundo Cristiane Bergerot, os resultados indicam que há espaço para modelos assistenciais mais sensíveis às necessidades emocionais e cognitivas dos pacientes idosos. "Quando oferecemos tempo, escuta e um cuidado estruturado, mesmo em situações clínicas complexas, o impacto pode ser surpreendente. E isso, mais do que uma descoberta científica, é um compromisso ético com quem está enfrentando uma doença avançada", finaliza.

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