Para alertar sobre o assunto, a organização Médicos pelo Clima lançou nesta segunda-feira (9) uma cartilha voltada para pais e cuidadores, abordando os impactos físicos e mentais na infância de eventos extremos relacionados às mudanças climáticas. O documento foi desenvolvido com revisão técnica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"As mudanças climáticas afetam diretamente a saúde das crianças: comprometem a saúde respiratória, influenciam a nutrição pela privação de alimentos e impactam a segurança alimentar. Também favorecem a proliferação de mosquitos transmissores de doenças como febre amarela, dengue, chikungunya e outras arboviroses", afirma Renato Kfouri, infectologista pediatra e um dos colaboradores da cartilha.
"Informar a população sobre formas de cuidado e prevenção é fundamental. A comunidade médica tem um papel central nesse processo — o médico ainda é a principal fonte de informação confiável e de qualidade para as famílias no que diz respeito à prevenção e ao controle de doenças", completa.
Para o desenvolvimento da cartilha, os especialistas selecionaram cinco eventos climáticos que têm sido frequentes em cada uma das regiões do Brasil: inundações no Sul, chuvas intensas e altas temperaturas no Sudeste, ondas de calor intenso no Centro-Oeste, secas prolongadas no Nordeste e queimadas na Amazônia.
Segundo a cartilha, os impactos das inundações estão, principalmente, relacionados à saúde mental de crianças e adolescentes, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), além de sintomas como comportamentos agressivos, isolamento social, dependência excessiva, ansiedade e depressão.
Além dos efeitos mentais, as inundações favorecem o aumento dos riscos de infecções transmitidas pelo ar, por feridas na pele expostas e pela água contaminada, como a leptospirose. Ela é causada pela contaminação da água por urina de animais infectados, principalmente ratos.
As chuvas intensas também aumentam o risco de arboviroses, como a dengue. Em 2024, o Brasil atingiu o recorde de mais de 6 milhões de casos registrados e 5 mil mortes pela doença.
Já em relação às ondas de calor, o principal risco é a hipertermia, ou seja, o aumento da temperatura corporal, podendo levar a sintomas como pele quente e vermelha, confusão mental, vômitos e queda do nível de consciência. Em casos graves, as ondas de calor podem levar à sobrecarga do coração, cansaço e indisposição.
Por fim, as secas aumentam o risco de desnutrição infantil e de doenças infecciosas devido à falta de o à água tratada. Enquanto as queimadas podem desencadear ou agravar doenças respiratórias, como asma, rinite, conjuntivite alérgica e dermatite atópica.
A cartilha também elenca os principais cuidados para proteger as crianças dos riscos associados a eventos extremos. As dicas são divididas de acordo com o evento e a região brasileira. Em geral, os cuidados incluem:
"As mudanças climáticas já estão alterando profundamente as condições de vida e saúde das crianças brasileiras. Cada região do país revela, de forma singular, os desafios e urgências desse cenário. Em todas essas realidades, a saúde infantil emerge como um termômetro da crise climática e um chamado à ação", avalia o pediatra Daniel Becker, embaixador do Médicos pelo Clima, na cartilha.
"Cuidar das crianças é cuidar do mundo em que elas irão crescer — e que esse compromisso una profissionais de saúde, famílias, educadores e gestores em uma jornada guiada pela urgência, pela responsabilidade e pela esperança", finaliza.