Se caminhoneiros parassem o Brasil, ia cair na conta de Bolsonaro, diz Cid

Em depoimento ao STF, tenente-coronel afirmou que o ex-presidente "tinha uma preocupação muito grande" com a possibilidade dos caminhoneiros pararem o país

Leticia Martins, Davi Vittorazzi e Maria Clara Matos, da CNN, São Paulo e Brasília
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O tenente-coronel Mauro Cid declarou, durante o interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), que o presidente Jair Bolsonaro (PL) temia ser responsabilizado sobre um possível bloqueio geral das rodovias por parte dos caminhoneiros e, consequentemente, uma crise econômica gerada pela situação.

"O presidente tinha uma preocupação muito grande com a questão dos caminhoneiros de que os caminhoneiros pararem o país. Ele queria de alguma forma que não houvesse uma manifestação dos caminhoneiros bloqueando estrada nem parasse o país, porque ia cair na conta dele uma crise econômica imensa", afirmou Cid ao ser questionado pelo ministro Luz Fux, presente na audiência.

Fux então questionou se Cid teria alguma informação sobre a compra de um celular da Apple, Iphone, ao que o tenente-coronel disse não possuir.

 

“Como eu falei anteriormente: eu sabia o que estava acontecendo, mas eu não matinha contatos externos que não fossem de interesse do presidente”, adicionou o depoente.

Em 2022, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após o segundo turno da eleição presidencial, caminhoneiros protestaram contra a eleição do petista e bloquearam estrada de vários estados brasileiros. O fluxo de rodovias, como a do Presidente Dutra – que liga São Paulo ao Rio de Janeiro – na região de Barra Mansa, no sentido da capital fluminense – , foi interrompido.

Mobilização de caminhoneiros

Em depoimento feito após seu acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, Mauro Cid havia comentado sobre uma reunião na Asa Sul, bairro nobre de Brasília, para discutir a "conjuntura do país", em novembro de 2022.

Nela, se falou a respeito de "manifestações" e os presentes ventilaram ideias, como "mobilizar os caminhoneiros".

O tom da reunião, disse Cid, foi no sentido de que algo tinha que ser feito para estimular uma "mobilização de massa", mas sem detalhes.

A partir daí, começaram a ventilar possibilidades. Dentre elas, o ex-ajudante de ordens apontou: "vamos mobilizar os caminhoneiros, parar o país... não, vamos bloquear estrada. Então, ideias que podiam ser feitas", relatou.

Foi nesse momento que, de acordo com Cid, o general Braga Netto justificou que seria melhor que o ex-ajudante de ordens não particie do planejamento, "porque ele está muito próximo ao Bolsonaro".

Depoimentos

O STF realiza, nesta segunda (9), os interrogatórios dos réus do chamado "núcleo crucial" da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022. Ao todo, serão ouvidos oito réus:

  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
  • Alexandre Ramagem, deputado e ex-chefe da Abin;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI;
  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  • e Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice de Bolsonaro na eleição em 2022.

A Primeira Turma do STF reservou os cinco dias desta semana para os interrogatórios.