No despacho enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), Gonet escreveu: "A última esperança da organização estava na manifestação de 8 de janeiro. Os seus membros trocavam mensagens, apontando que ainda aguardavam uma boa notícia".
Segundo Gonet, a organização liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), "incentivou a mobilização do grupo de pessoas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, que pedia a intervenção militar na política".
Para o procurador, o 8 de janeiro "foi fomentado e facilitado pela organização" e, por isso, "deve ser responsabilizada por promover atos atentatórios à ordem democrática, com vistas a romper a ordem constitucional, impedir o funcionamento dos Poderes, em rebeldia contra o Estado de Direito Democrático".
Conforme a peça de Gonet, Bolsonaro e membros de seu governo, como o então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o comandante da Marinha, Almir Garnier, formaram "o núcleo crucial da organização criminosa, mesmo tenha havido adesão em momento distinto".
Ao ar a denúncia para o STF, caberá ao Supremo reconhecer se há mérito para julgar o caso. Se sim, os indiciados se tornam réus e responderão a um processo judicial.
Em nota, a defesa de Jair Bolsonaro afirma que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito" e que a denúncia apresentada pela PGR é inepta e baseada em uma única delação. Leia a íntegra:
"A defesa do Presidente Jair Bolsonaro recebe com estarrecimento e indignação a denúncia da Procuradoria-Geral da República, divulgada hoje pela mídia, por uma suposta participação num alegado golpe de Estado. O Presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam. A despeito dos quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas diligências investigatórias, amplamente adas por medidas cautelares de cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos —, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa construída na denúncia, foi encontrado. Não há qualquer mensagem do Presidente da República que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais. A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa. O Presidente Jair Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denúncia não prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos que a sustentem perante o Judiciário"
A defesa de Anderson Torres, por sua vez, afirmou que irá analisar a denúncia antes de fazer qualquer manifestação. A CNN fez contato com a defesa de Alexandre Ramagem, Augusto Heleno e Almir Garnier, mas ainda não obteve retorno.