Levantei e fui embora, diz Baptista Jr. sobre reunião da "minuta do golpe"
Ex-comandante da Aeronáutica presta depoimento como testemunha no âmbito da ação penal que apura suposta tentativa de golpe de Estado
O tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), reiterou ao Supremo Tribunal Federal (STF), durante depoimento nesta quarta-feira (21), que se opôs à discussão de uma “minuta do golpe”, com intuito de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder mesmo após a derrota na eleição de 2022.
De acordo com Baptista Jr., o documento foi apresentado durante uma reunião no Ministério da Defesa, em novembro de 2022, com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o ex-comandante da Aeronáutica, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, levou um documento para ser analisado por ele e pelos demais chefes das Forças Armadas. Ao perceber o conteúdo do material, Baptista Jr. diz ter se recusado a sequer recebê-lo e abandonou o encontro.
“Ele [Paulo Sérgio] disse: ‘Trouxe aqui um documento para vocês verem’. Não lembro se ele falou que era estado de defesa ou de sítio. Perguntei: ‘Esse documento prevê a não assunção do presidente eleito?’. Se sim, eu não ito sequer receber esse documento. Levantei e fui embora”, afirmou Baptista Jr.
Ainda segundo Baptista Jr., o general Paulo Sérgio permaneceu em silêncio diante da pergunta, o que reforçou sua percepção de que o texto articulava uma ruptura institucional
“Ficou em silêncio, e estava, sim, prevista a não posse do presidente eleito. Se eu estivesse errado, ele teria me chamado de volta”, complementou o ex-comandante.
Depoimento
O depoimento foi prestado no âmbito das investigações sobre uma possível tentativa de golpe de Estado. A oitiva foi realizada pela Primeira Turma do STF e durou cerca de 1 hora e 20 minutos.
Durante o depoimento, Baptista Jr. relatou ter participado de reuniões com conteúdo golpista, mas reforçou que sempre se posicionou contra qualquer iniciativa que violasse a Constituição.
Ele disse ainda ter sido alvo de ataques nas redes sociais por parte de apoiadores de Bolsonaro por causa de sua postura institucional. O militar foi indicado como testemunha tanto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto pelas defesas de Bolsonaro, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier e do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira.
A oitiva estava inicialmente marcada para segunda-feira (19), mas foi adiada após a defesa de Baptista Jr. alegar que ele estava fora do país.