Os fatos acontecem na esteira de sua condenação de dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), votada em maio, pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A série de acontecimentos envolvendo a deputada do PL teve início na terça-feira (3), quando Zambelli anunciou que havia deixado o país por motivos de saúde.
"Queria anunciar que estou fora do Brasil já faz alguns dias", declarou. "Eu vim a princípio buscando tratamento médico que eu já fazia aqui e agora eu vou pedir para que eu possa me afastar do cargo."
No mesmo dia, a parlamentar concedeu uma entrevista à CNN em que disse ser "intocável" como cidadã italiana e que, por isso, não poderia ser retirada do país. A informação foi contestada posteriormente por especialistas ouvidos pela CNN.
Investigadores da Polícia Federal (PF) apuraram que a política do PL deixou o Brasil inicialmente de carro. Ela saiu de São Paulo em direção a Foz do Iguaçu (PR), onde atravessou a fronteira para Puerto Iguazu, na Argentina.
Lá, entrou em um avião com destino à Buenos Aires e seguiu para Miami. O trajeto também foi confirmado pela deputada.
Pouco tempo após circular a informação de que Zambelli não estaria mais em solo brasileiro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou ao STF um pedido de prisão preventiva contra a deputada.
A medida cautelar tramitou em uma petição sigilosa e levou em conta a viagem da parlamentar para o exterior.
Antes do ministro da Corte e relator do caso, Alexandre de Moraes, decidir sobre, Carla Zambelli foi às redes sociais comentar a ação da PGR, classificando-a como "inconstitucional".
"A Procuradoria-Geral da República quer pedir a minha prisão. Só tem um detalhe: deputado federal só pode ser preso em flagrante delito e por crime inafiançável", afirmou a deputada em um vídeo compartilhado nas redes sociais.
De acordo com ela, a acusação é injusta, visto que não foi presa em flagrante. E complementou: "Então essa é uma prisão inconstitucional".
A decisão sobre o pedido da PGR, contudo, saiu no dia seguinte.
Nesta quarta, Alexandre de Moraes decretou a prisão preventiva. O magistrado afirmou que Zambelli utilizou o mesmo "modus operandi" do também deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que hoje está nos Estados Unidos e possui um inquérito aberto sobre a sua saída do Brasil — também relatado por ele.
Além disso, classificou a natureza da viagem como uma forma evidente de "se furtar da aplicação da lei", considerando a proximidade da decretação da perda do seu mandato parlamentar e a aproximação do julgamento dos recursos do caso da deputada. Um deles está previsto para ter início sexta-feira (6), no plenário virtual do STF.
Além do pedido de prisão, Moraes também determinou o bloqueio imediato:
Para o último ponto, o ministro chegou a determinar um prazo de duas horas para que as empresas controladoras das plataformas em que Carla Zambelli possui contas — como Gettr, Meta, Linkedin, TikTok, X, Telegram e Youtube — bloqueiem os usuários da parlamentar. Caso descumprissem, uma multa diária de R$ 100 mil seria aplicada.
Horas após a decisão, as contas associadas oficialmente à Zambelli aram a serem exibidas como "retidas" ou "fora do ar". No total, onze perfis foram desativados.
Na semana ada, Carla Zambelli alegou viver em um "cenário de perseguição" e transferiu as redes sociais para os familiares.
Segundo ela, a mãe seria pré-candidata à deputada federal para as eleições do próximo ano. Já João, seu filho, disputaria a pré-candidatura ao cargo de vereador da capital paulista nas próximas eleições municipais, em 2028.
Além do pedido de prisão preventiva, Alexandre de Moraes atendeu a outro pedido da PGR: o que pedia a inclusão do nome Carla Zambelli na lista de difusão vermelha da Interpol, a Organização Internacional de Polícia Criminal.
Ainda na quarta, a Polícia Federal encaminhou o pedido de inclusão à organização que hoje é chefiada pelo brasileiro Valdecy Urquiza, também delegado da PF.
A CNN apurou que a organização já recebeu o pedido. O caso será analisado e, se aprovado, Zambelli a a ser considerada foragida em 196 países, incluindo Estados Unidos e Itália, e pode ser presa fora do Brasil.
No mesmo dia, o deputado italiano Angelo Bonelli, filiado ao partido Europa Verde, comentou a declaração da parlamentar brasileira à CNN de que seria "intocável" por possuir cidadania italiana.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Bonelli classificou a fala como uma "vergonha" e questionou se o governo italiano pretende colaborar com o Brasil para extraditá-la, caso chegue a viajar ao país.
"Não se pode usar a cidadania italiana para se escapar de uma condenação. A Itália corre o risco de se tornar um paraíso para gente condenada. Aguardamos uma resposta clara do governo italiano", afirmou.
🇮🇹Ex-deputada brasiliana Zambelli, condannata a 10 anni di prigione fugge dal Brasile e arriverà in Italia perché ha ottenuto la cittadinanza.
🇧🇷Ex-deputada brasileira Zambelli, condenada a 10 anos de prisão, foge do Brasil e chegará à Itália porque obteve cidadania. pic.twitter.com/SmeKt4VZEh
— Angelo Bonelli (@AngeloBonelli1) June 4, 2025
O último o do caso envolvendo Zambelli na última noite.
O ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um novo inquérito contra a parlamentar do PL. Ele pediu que ela fosse investigada pelos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
Ela deve ser ouvida pela Polícia Federal — por escrito, já que está fora do país — em até dez dias.