Segundo o especialista, a fuligem presente no ar não apenas suja superfícies externas, como cortinas e roupas, mas também penetra profundamente nos pulmões. "Como essa fuligem não é carvão, não é grafite simples, ela contém substâncias que provocam inflamação", explica Saldiva.
O médico apresentou imagens comparativas de pulmões afetados pela poluição e pelo tabagismo. Enquanto o pulmão de um fumante exibe manchas pretas mais espalhadas, o de um não-fumante exposto à poluição urbana também apresenta marcas escuras significativas.
"Isso é uma tatuagem de poluição que nos acompanha e uma parte disso vai para fora, para outras partes do corpo", alerta o patologista. Ele ressalta que todos os paulistanos carregam um pouco dessa "tatuagem" em seus pulmões, não apenas no coração metaforicamente.
Saldiva menciona que os casos mais graves de "pulmão tatuado" que já observou foram em cortadores de cana, durante a época em que se queimava a cana antes da colheita. Ele compara essa condição ao que antigamente era visto apenas em mineradores de carvão.
O acúmulo dessas partículas nos pulmões não é inofensivo. "Faz com que o nosso pulmão envelheça mais depressa", adverte o médico, destacando as sérias implicações para a saúde respiratória a longo prazo dos habitantes de grandes centros urbanos como São Paulo.