O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o relatório como "um código vermelho para a humanidade", observando que "o aquecimento global está afetando todas as regiões da Terra, com muitas mudanças se tornando irreversíveis".
O relatório tem cerca de 3.500 páginas, representa anos de pesquisa sobre o tema, foi escrito por mais de 200 cientistas de mais de 60 países e cita mais de 14.000 estudos individuais.
Este relatório vai mais longe do que qualquer relatório climático anterior do IPCC ao colocar a culpa pelo aquecimento global diretamente nas emissões de gases de efeito estufa feita pelos humanos.
Não é mais uma questão de mudança climática "natural versus causada pelo homem". A dependência da sociedade de combustíveis fósseis é a razão pela qual o planeta já aqueceu 1,2 graus Celsius – cada parte disso por meio da emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano.
O aquecimento está acontecendo ainda mais rápido do que os cientistas pensavam anteriormente, e as últimas projeções nos mostram atingindo ou ultraando 1,5 grau – um limiar chave que os cientistas dizem ser fundamental ficar abaixo – nas próximas uma ou duas décadas.
Assim como o relatório claramente culpa a poluição do carbono pelo aumento das temperaturas, também está claro que a única maneira de desacelerar e, eventualmente, reverter o aquecimento é reduzir as emissões de gases de efeito estufa a zero.
Evitar 1,5 grau de aquecimento é quase impossível, mas ainda podemos continuar aquecendo em torno desse limite crítico e evitar o agravamento dos impactos decorrentes da aproximação e dos 2 graus de aquecimento.
Evitar esses impactos acarretará cortes significativos nas emissões de gases de efeito estufa – se adotados imediatamente. Se as emissões continuarem a aumentar, o mundo atingirá 2 graus de aquecimento – possivelmente antes de 2050 – e atingirá 3 graus antes do final do século.
O aquecimento que já ocorreu gerou mudanças que persistirão mesmo que as emissões parem e as temperaturas se estabilizem, relata o estudo.
Os mantos de gelo continuarão derretendo por centenas a milhares de anos, de acordo com o relatório, o que fará com que o nível do mar suba bem e permaneça mais alto por milênios.
Prevê-se que o nível do mar suba de 2 a 3 metros em 2300, mesmo se o aquecimento for mantido abaixo de 2 graus, mas pode chegar a 5 a 7 metros ou mais se o aquecimento continuar inabalável.
Este relatório aponta para outro vilão na crise climática – o metano – um gás que contém mais de 80 vezes o poder de aquecimento do planeta no curto prazo.
Dados mais recentes mostram que os índices de metano na atmosfera está disparando e atualmente é o maior em 800 mil anos, em grande parte por causa de uma combinação de vazamentos de gás natural e agricultura e pecuária insustentáveis.
Considerando seu enorme potencial de aquecimento e sua vida útil mais curta na atmosfera em comparação com o dióxido de carbono, o controle do metano poderia reduzir significativamente o aquecimento global nas próximas décadas.
O relatório do IPCC, embora extensos em ciência e exaustivos em escopo e detalhes, contêm muito pouco na sugestão de políticas para remediar a crise climática. Este relatório, por exemplo, é puramente os fatos científicos e as previsões para o futuro.
Os principais relatórios do IPCC que virão no próximo ano entrarão em mais detalhes sobre impactos específicos e formas de mitigá-los, mas antes disso, os líderes globais se reunirão em uma conferência climática liderada pela ONU em novembro, no que está sendo anunciado como a reunião de política climática mais importante desde o Acordo de Paris, que foi assinado em 2015.
"Como o relatório de hoje deixa claro, não há tempo para atrasos e nem espaço para desculpas", declarou o secretário-geral da ONU esta manhã, enquanto implorava aos líderes do governo que garantissem que a COP26 fosse um sucesso para "evitar a catástrofe climática".
(Este texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)