Segundo estimativas da Ucrânia, mais de 40 aviões foram atingidos, gerando prejuízo de US$ 7 bilhões. Entretanto, autoridades dos EUA afirmaram à agência Reuters que cerca de 20 aeronaves foram impactadas, sendo que 10 foram destruídas.
De toda forma, esse e outros ataques do Exército ucraniano podem ser considerados nas negociações de paz. Além disso, fica a questão: como a Rússia vai responder e retaliar a Ucrânia?
Após os ataques da Ucrânia, blogueiros pró-Rússia e apresentadores de TV pediram por uma represália, incluindo com uma ofensiva nucelar.
Especialistas russos avaliaram que a destruição dos bombardeiros estratégicos pode ser interpretada como uma violação do "limite legal" estabelecido por Moscou para uso de armas nucleares.
A doutrina nuclear recentemente atualizada do Kremlin – que estabelece as condições para uso de armas do tipo – afirma que qualquer ataque a uma infraestrutura militar "criticamente importante" que "interrompa as ações de resposta das forças nucleares" pode desencadear uma retaliação nuclear.
Ainda assim, especialistas ouvidos pela CNN avaliaram que a probabilidade de um ataque nuclear da Rússia é muito baixa.
Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que a Rússia ficaria isolada internacionalmente, podendo quebrar relações, inclusive, com aliados como China e Índia, que já se posicionaram contra o uso de armamento nuclear.
O especialista também avalia que o uso de armas nucleares táticas -- que possuem menor poder de destruição -- não traria grande vantagem no campo de batalha para a Rússia.
"Isso não alteraria a linha de frente, apenas isolaria um pedaço da Ucrânia por um determinado período", comentou.
Leandro Consentino, especialista em Relações Internacionais e professor do Insper, ressalta que o uso de armas nucleares traria um impacto geopolítico muito grande e que causaria "consequências bem preocupantes para a própria dinâmica do sistema internacional atual".
"[A utilização de armas nucleares] é uma consequência bastante danosa, sobretudo de um desequilíbrio cada vez maior do ponto de vista geopolítico entre as potências, levando em consideração uma ameaça muito forte", destacou.
Comparando com o ataque dos Estados Unidos a Hiroshima e Nagasaki no Japão no final da Segunda Guerra Mundial, o professor pondera que aquela ofensiva ocorreu em um cenário muito específico, principalmente para ar uma mensagem para a União Soviética, algo que não deve se repetir nesse momento.
Além disso, Brustolin pontua que as chamadas armas nucleares estratégias -- como as usadas pelos EUA -- não seriam consideradas pelo governo russo, pois o nível de destruição causado e de radiação liberado poderia iniciar uma guerra muito maior.
Ambos os especialistas avaliam ainda que outro ponto que pode fazer com que a Rússia decida por não realizar um ataque nuclear é a radiação.
Consentino e Brustolin pontuam que o próprio território russo poderia ser contaminado pela radiação, dependendo de qual região da Ucrânia fosse atacada.
"A radiação se espalharia para outros países da Europa, inclusive membros da Otan, e também para a Rússia. Se espalharia por meio de chuvas, por meio do vento... nós vimos o risco da radiação se espalhar por grande parte da Europa, por exemplo, no acidente de Chernobyl", comentou Vitelio.
A contaminação de países da Otan, a aliança militar ocidental, também poderia gerar uma resposta do bloco comandado pelos Estados Unidos, que poderia avaliar a ação como uma ameaça à existência de seus integrantes, o que não é o objetivo do governo russo.
Assim, os especialistas ouvidos pela CNN avaliam que a ameaça do uso de armas nucleares ainda é um ponto de dissuasão -- capacidade de influenciar adversários a não tomarem determinadas medidas -- usado pela Rússia.
É uma forma de o governo russo mostrar força e também garantir que não sejam adotadas medidas que podem colocar em risco a integridade territorial do país.
"Falamos em ataques nucleares, mas mais como algo como dissuasão do que de fato como algo efetivo a ser utilizado. Então acho que a retórica continua, mas a probabilidade é muito baixa do lançamento desse tipo de armamento", pontua Leandro Consentino.
Vitelio Brustolin, por sua vez, ressalta que a ameaça nuclear dá Rússia é utilizada há muito tempo como instrumento de "chantagem", não apenas por Vladimir Putin, mas como seus aliados.
"Essa chantagem nuclear já era esperada e isso não é novidade, isso a gente está testemunhando há três anos e três meses já", conclui o professor.
Por fim, Brustolin e Consentino ressaltam ser mais provável que a Rússia responda com armas convencionais, como bombas de fragmentação e armas termobáricas.
Em novembro de 2024, o Exército de Vladimir Putin usou um novo míssil balístico hipersônico, que recebeu o nome de "Oreshnik".
Já naquela época, Putin havia alertado que o novo dispositivo poderia ser utilizado outra vez, chamando atenção para seu potencial de destruição.
A Rússia também pode intensificar os ataques com drones e ter como alvo, por exemplo, infraestruturas críticas da Ucrânia, como instalações de geração de energia.