As divisões no próprio partido de Biden ameaçam sua agenda econômica em seu país, e o democrata reconheceu que a credibilidade dos EUA e o futuro de sua presidência estão em jogo.

Apesar de pedir aos legisladores que o deem uma vitória legislativa para divulgar no cenário mundial – especialmente as medidas contra as mudanças climáticas que dariam peso extra à sua presença na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP26) na próxima semana, Biden apareceu na Cidade Eterna sem um acordo fechado.

Soma-se a essa complicação as perguntas que vêm de algumas nações sobre o compromisso do presidente norte-americano em trabalhar cooperativamente em questões globais após a retirada caótica dos Estados Unidos do Afeganistão.

Este fim de semana marca a primeira cúpula do G20 presencial desde o início da pandemia de coronavírus, e os líderes mundiais devem discutir a crise de Covid-19, os problemas da cadeia de abastecimento global, um imposto mínimo global, preços elevados de energia e o combate à crise climática, entre outros tópicos.

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O presidente dos EUA levantará questões de fornecimento de energia e apoiará um imposto mínimo global na primeira sessão do G20 neste sábado em Roma, disse um funcionário do alto escalão governo. Essas duas questões estão entre os principais itens da agenda de Biden na conferência das maiores economias do mundo.

"O tema abrangente que será abordado (no sábado) é que os Estados Unidos estão firmemente comprometidos com nossos aliados e parceiros e com a diplomacia nos níveis mais altos", disse o funcionário.

O tópico da primeira sessão é a economia global e a pandemia, e seu objetivo principal será o endosso de um imposto mínimo global, uma das principais prioridades de Biden que a Casa Branca acredita que acabaria com a competição global para oferecer os menores impostos para empresas.

A medida tributaria grandes empresas multinacionais a uma alíquota mínima de 15% e as obrigaria a pagar impostos nos países onde fazem negócios. O governo Biden deu novo fôlego à iniciativa no início deste ano e garantiu o apoio dos países do G7 em junho, abrindo caminho para um acordo preliminar em julho.

"Em nossa opinião, isso é mais do que apenas um acordo tributário. É uma reformulação das regras da economia global", disse o funcionário.

Joe Biden e Emmanuel Macron se reúnem em Roma, antes de cúpula do G20 / Reprodução/EmmanuelMacron/Twitter
Joe Biden e Emmanuel Macron se reúnem em Roma, antes de cúpula do G20 / Reprodução/EmmanuelMacron/Twitter

Aspectos da recém-revelada proposta de gastos de Biden endossariam parte do esquema tributário mínimo global, embora o destino dessa medida permaneça incerto enquanto os democratas discutem sobre o prazo.

Funcionários do governo Biden minimizaram o efeito das disputas internas do partido sobre a capacidade de Biden de reunir líderes estrangeiros.

"Esses líderes mundiais são realmente sofisticados. Eles entendem. Há um processo complicado em qualquer democracia para fazer algo tão ambicioso quanto buscamos em nossa agenda doméstica", disse o funcionário do governo. “São investimentos multigeracionais e, claro, estamos tentando reformar o código tributário para pagar por isso.”

Biden também planeja "falar do desequilíbrio de curto prazo na oferta e demanda nos mercados globais de energia" durante a primeira sessão do G20, disse o funcionário. "Gostaríamos de levantar a questão e sublinhar a importância de encontrar mais equilíbrio e estabilidade tanto nos mercados de petróleo quanto nos mercados de gás."

Ainda assim, o funcionário disse que Biden não vai se envolver diretamente nas decisões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sobre o aumento da oferta.

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"Certamente não vamos nos envolver com os detalhes do que acontece dentro do grupo, mas temos voz e pretendemos usá-la em um problema que está afetando a economia global."

“Existem grandes produtores de energia com capacidade ociosa”, disse o funcionário. "E estamos encorajando-os a usá-la para garantir uma recuperação mais forte e sustentável em todo o mundo."

O Irã também deve estar na agenda dos EUA e seus principais aliados.

Neste sábado (30), Biden se encontrará com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, para discutir o caminho para retornar ao acordo nuclear que visa conter o programa do Irã, disse a Casa Branca.

Donald Trump retirou os EUA do acordo em 2018 e Biden disse que os EUA irão se juntar novamente assim que Teerã voltar a cumprir a totalidade das restrições do pacto quanto ao desenvolvimento nuclear.

O presidente deve realizar reuniões bilaterais adicionais com líderes mundiais enquanto estiver em Roma, embora a Casa Branca ainda não tenha feito qualquer anúncio oficial.

Haverá também uma tradicional "foto de família" dos líderes, que será uma das oportunidades mais fotografadas para se encontrarem durante a cúpula.

As interações do presidente com os líderes mundiais serão observadas de perto ao longo do fim de semana, principalmente enquanto ele tenta amenizar uma desavença diplomática com um dos mais antigos aliados dos Estados Unidos, a França.

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália anunciaram uma nova parceria no mês ado que incluiu o fornecimento de assistência para ajudar a Austrália a desenvolver submarinos com propulsão nuclear.

A França diz que o negócio foi feito em segredo e colocou em risco um contrato bilionário existente para fornecer à Austrália submarinos movidos a diesel. Em uma repreensão impressionante ao anúncio, Macron convocou brevemente o embaixador da França nos Estados Unidos.

Na sexta-feira (29), em Roma, Biden disse que seu governo foi "desajeitado" ao lidar com o acordo que privou a França de bilhões em contratos de defesa quando se encontrou com Macron, que parecia pronto para deixar a briga – apesar de ter deixado claro que Washington precisará se provar confiável no futuro.

A reunião foi a primeira vez que os dois líderes se viram cara a cara desde a desavença. Biden disse ter a impressão de que a França havia sido informada "muito antes de que o negócio [com a Austrália] não seria concretizado".

Além de se encontrar com Macron no primeiro dia de sua viagem, Biden e a primeira-dama, Jill, se encontraram com o papa Francisco no Vaticano.

Biden, que é católico, e o papa se reuniram por 90 minutos. O presidente disse depois que Francisco lhe disse que estava satisfeito por ser um "bom católico" e que deveria continuar recebendo a comunhão, apesar da oposição de alguns bispos norte-americanos conservadores sobre seu apoio ao aborto.

Os Biden também foram recebidos pelo presidente italiano Sergio Mattarella e pelo primeiro-ministro italiano Mario Draghi.

(Texto traduzido; leia o original em inglês)

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