Conforme os mitos, a travessia pelo rio Aqueronte é feita com ajuda de Caronte, o barqueiro da morte. Ao chegar do outro lado, os recém-mortos encontram Cérbero, um gigantesco cão-de-guarda que permite a entrada das almas no reino dos mortos e impede que jamais possam voltar.

Alguns desses personagens míticos têm sido relembrados no sul da Europa nos últimos dias. As ondas de calor que atingem a região, incluindo Itália, Grécia e Espanha, vêm recebendo seus nomes.

Na semana ada, a onda de calor que elevou as temperaturas para a casa dos 40º C nesses países foi chamada de Cérbero (ou Cerberus, em latim). Já o fenômeno previsto para a próxima semana vem sendo nomeado de Caronte (ou Cháron).

Justamente criaturas que, pelos mitos, levam as almas para o mundo dos mortos, onde haveria um rio de fogo, o Flegetonte.

Em outros mitos que tentam explicar a morte, como os ligados ao cristianismo, esse submundo também seria um lugar de calor intenso e fogo por todos os lados ou teria alguma região assim.

Dentre as diversas culturas e crenças narram o "mundo dos mortos" como um lugar de sofrimento e calor intenso está ainda o hinduísmo, o budismo e o islamismo.

"Isso é novo. Ondas são classificadas como de frio ou calor. Geralmente não recebem nomes. Mas a Europa começa a fazer isso [nomear] para identificar os fenômenos por conta da gravidade, intensificação e persistência deles", explica a Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

De acordo com ela, há uma relação direta entre os nomes dados a fenômenos climáticos e o que provocam no entorno e para as pessoas.

"Os furacões, por exemplo, recebiam nomes de mulheres normalmente porque as mulheres são tidas como mais temperamentais. Mas isso também vem mudando. Em relação aos furacões, a nova tendência é colocar nomes como alfa, beta, ligados à matemática, por causa das questões da sociedade como um todo", explica.

Já os nomes recentes dados às ondas de calor, segundo Ramos, estão associados a coisas ruins, assim como o guarda do mundo dos mortos ou o barqueiro da morte.

"A associação é feita para chamar a atenção das pessoas. É uma associação com catástrofe. Quem escolhe como um fenômeno vai chamar ou não são as agências meteorológicas, buscando na literatura, o que poderia se assemelhar aos impactos que devem ser provocados", finaliza.

 

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