Vídeos do posto de distribuição em Tel al-Sultan, istrado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), mostraram grandes multidões invadindo as instalações, derrubando algumas das cercas e aparentemente escalando barreiras projetadas para controlar o fluxo de pessoas.
“Cheguei a um local cercado por americanos e pelo Exército. Tentei me aproximar, mas por causa da multidão, não consegui nada”, disse Wafiq Qdeih.
“O Exército israelense estava atirando para o alto, e os americanos e seus funcionários recuaram, impossibilitando a distribuição de ajuda à população. Eles querem ordem, mas não haverá ordem porque são pessoas desesperadas que querem comer e beber", completou o cidadão palestino.
Vários moradores que tentavam obter ajuda relataram à CNN que estavam gratos pela comida que receberam, mas descreveram longas caminhadas para chegar ao centro de distribuição, filas de horas e confusão generalizada.
“O lugar é muito longe e lutamos até chegar. Estou cansado e exausto. Como eles podem fornecer comida para todas essas pessoas? Há muita gente aqui; a segurança não conseguirá controlar todas”, destacou Abu Ramzi.
Um funcionário diplomático classificou o caos no local como "uma surpresa para ninguém".
Um bloqueio israelense de 11 semanas à ajuda humanitária levou a população do território, de mais de 2 milhões de palestinos, para a fome e para uma crise humanitária cada vez mais profunda.
A primeira retomada da ajuda chegou aos poucos ao território na semana ada.
O GHF reconheceu o caos, afirmando que "a equipe recuou para permitir que um pequeno número de moradores de Gaza recebesse ajuda em segurança e se dispersasse. Isso foi feito de acordo com o protocolo da fundação para evitar baixas".
Uma fonte de segurança disse que os agentes americanos em terra não dispararam nenhum tiro e que as operações seriam retomadas no local na quarta-feira (28).
As Forças de Defesa de Israel comentaram que suas tropas fizeram tiros de advertência na área externa do complexo e que a situação foi controlada. Eles negaram ter disparado fogo aéreo em direção ao local.
"É uma grande falha contra a qual alertamos", afirmou Amjad al-Shawa, diretor da Rede de Organizações Não Governamentais Palestinas.
“Se Israel acredita que esse método de distribuição funcionaria por meio desse bloqueio e do incentivo à fome, que viola os princípios humanitários, eles estão enganados” completou al-Shawa.
A GHF afirmou ter distribuído cerca de 8 mil caixas de alimentos, totalizando 462 mil refeições em Gaza até o momento.
A organização ressalta que o fluxo de refeições aumentará a cada dia, com a meta de entregar alimentos a mais de um milhão de pessoas, número que corresponde a 60% da população de Gaza, até o final da semana.
A Fundação também afirmou ter começado a operar na segunda-feira (26), mas fotos mostraram apenas algumas pessoas carregando caixas de ajuda humanitária, com paletes de caixas em um estacionamento vazio.
A GHF está preparando outros três locais para a distribuição de ajuda humanitária, dois dos quais estarão localizados no sul e um no centro de Gaza. Todos os locais no sul estão em uma área que foi alvo de uma ordem de desocupação em massa no dia anterior.
Não há locais de distribuição no norte de Gaza, um ponto de crítica de muitos especialistas em ajuda humanitária.
A ONU já havia alertado que o fato de os locais iniciais estarem apenas no sul e no centro de Gaza poderia ser visto como um incentivo ao objetivo publicamente declarado de Israel de expulsar "toda a população de Gaza", como afirmou o Ministro da Defesa, Israel Katz, no início deste mês.
“Este mecanismo parece praticamente inviável, incompatível com os princípios humanitários e criará sérios riscos de insegurança, ao mesmo tempo em que não cumpre as obrigações de Israel perante o direito internacional”, escreveu o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários em um documento obtido pela CNN.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (27), um oficial militar israelense afirmou que tanto o novo quanto o antigo mecanismo da ONU estão funcionando.
O Coordenador de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT) afirmou que 95 caminhões entraram em Gaza.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) havia afirmado anteriormente que está pronta, juntamente com outras organizações humanitárias, "para distribuir quantidades significativas de ajuda assim que formos autorizados".
Mas o número de famílias autorizadas a entrar em Gaza até o momento tem sido "mínimo", o que impede essa distribuição.
Jens Laerke, porta-voz do escritório de coordenação de ajuda da ONU, criticou o plano da GHF como "uma distração do que é realmente necessário, que é a reabertura de todas as travessias para Gaza, um ambiente seguro e uma facilitação mais rápida de permissões e aprovações finais de todos os suprimentos de emergência que temos do lado de fora da fronteira".
Israel e os EUA se recusaram a nomear as organizações humanitárias envolvidas no novo e controverso mecanismo, mas imagens do GHF mostraram caixas rotuladas como "Rahma Worldwide", uma organização sem fins lucrativos sediada em Michigan que afirma fornecer "ajuda e assistência às comunidades mais vulneráveis do mundo".