Esse cartão de visita já mostrava o tom provocador e destemido, que marcou toda a trajetória dessa artista carioca, que ficou famosa, não só pela voz potente, mas também pela postura.

Naquele dia, na Rádio Tupi, Elza se apresentou e emendou uma interpretação da canção “Lama”, de Paulo Marques e Aylce Chaves: “Se quiser fumar, eu fumo / se quiser beber, eu bebo”, entoavam os versos, que se tornariam marcantes.

Elza atravessou o século 20 experimentando sua música com gêneros como o samba e o jazz, e chegou aos anos 2000 com disposição renovada, colaborando com artistas jovens e propondo um discurso contemporâneo.

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Em homenagem à trajetória de Elza Soares, que acompanhou a história da música brasileira durante quase um século, CNN destaca algumas canções e momentos importantes:

Se Acaso Você Chegasse (1960)

No primeiro disco, Elza ainda se entregava ao samba mais tradicional, mas dava seu toque particular às canções. A música-tema de “Se Acaso Você Chegasse” é uma composição de Lupicínio Rodrigues, que ganha os vocais inspirado pelo jazz e pelo soul, lembrando o scat singing de nomes como Louis Armstrong.

Eu Sou a Outra (1965)

Ao cantar o samba de Ricardo Galeno, um hino sobre a infidelidade conjugal, Elza comentava de forma irônica a própria relação com o jogador de futebol Garrincha. O caso de amor, um dos mais famosos do país à época, começou em 1962, quando o craque ainda era casado.

Lama (1973)

O samba já possuía versões de Linda Rodrigues e Angela Maria quando foi escolhido por Elza para sua primeira apresentação – e nunca mais saiu de seu repertório. Nesta versão de 1973, cantada no programa Sambão, apresentado por Elizeth Cardoso na TV Record, Elza tem uma interpretação dramática, que dá ênfase à potência de sua voz.

Malandro (1976)

No final da década de 1970, Elza lançou a música, ajudando também a popularizar o até então desconhecido compositor Jorge Aragão. O samba tornou-se um dos números mais lembrados da cantora, e remente a suas origens na música popular.

Língua (1984)

Elza sempre foi considerada uma precursora pelas gerações mais importantes da música brasileira; e com a Tropicália não foi diferente. Nesta música, Caetano Veloso explicita a reverência, convidando a cantora para um dueto – e a resgatando de um breve período de ostracismo, causado por uma depressão.

Milagres (1984)

A parceria com Cazuza rendeu uma das mais marcantes incursões de Elza no rock. A cantora se reinventava na década, bebendo de influências do cenário musical que estavam em alta. A combatividade era a mesma de sempre, porém, com a letra do compositor carioca sugerindo uma crítica à violência do período.

O Meu Guri (1997)

A canção de Chico Buarque, presente no disco “Trajetória”, ecoa uma tragédia pessoal de Elza. Em 1986, seu filho Manoel Francisco dos Santos Júnior, o Garrinchinha, morreu em um acidente de trânsito aos 9 anos de idade. “Quando seu moço nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar”, cantam os versos da abertura.

A Carne (2002)

O single é a música mais célebre de “Do Cóccix Até o Pescoço”, disco produzido por José Miguel Wisnik, que introduziu Elza ao século 21. De sonoridade mais ousada, incluindo o hip-hop, o álbum renovou a obra da artista. Em “A Carne”, a preocupação social é a de sempre, porém. A música ficou famosa pelos versos “A carne mais barata do mercado é a carne negra/ que vai de graça pro presídio e pra debaixo do plástico”.

A Mulher do Fim do Mundo (2015)

Em 2015, Elza lançou “A Mulher do Fim do Mundo”, disco que conquistou todo um novo público para a cantora. Produzido por Guilherme Kastrup e contando com compositores com nomes de destaque da cena alternativa como Kiko Dinucci e Rômulo Fróes, o álbum levou Elza a cantar sobre temas como a violência doméstica e a violência urbana, sobre uma sonoridade mais experimental, que ia do samba ao rock. “Eu vou cantar até o fim”, entoava no refrão da música título.

Comportamento Geral (2019)

No seu último disco, “Planeta Fome”, Elza voltava às origens da carreira, refazendo musicalmente a resposta a Ary Barroso. O disco dá continuidade às parcerias contemporâneas da artista, e dobra a aposta na crítica social e política. Em “Comportamento Geral”, a canção composta por Gonzaguinha em 1973, ganha novos sentidos ao ser cantada no Brasil de hoje.

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