O educador americano é fundador da Khan Academy, uma organização sem fins lucrativos criada em 2008 que oferece aulas on-line e gratuitas. Um dos mais recentes lançamentos da plataforma é a ferramenta "Khanmigo", destinada aos professores. Por meio da IA, ela funciona como um tutor inteligente, oferecendo e ao aprendizado, contínuo e instruções adaptativas, personalizadas às necessidades dos docentes e alunos.
Em entrevista exclusiva à CNN, na véspera do evento que será realizado na capital paulista, Sal Khan ressaltou que o uso da IA pode tornar mais eficiente o trabalho dos professores em meio a tarefas como o planejamento e o conteúdo que será dado em sala de aula, correção de provas e escrita de relatórios. "Os professores já têm uma carga de trabalho elevada. Ainda assim, as pessoas esperam que eles façam cada vez mais, porque todos nós queremos melhorar os resultados da educação", afirmou.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Semesp com 444 professores da educação básica em março de 2024 mostrou que 74,8% dos docentes encaram a tecnologia e a IA como aliadas no ensino. Mas, apesar do reconhecimento de seus benefícios, apenas 39,2% dos professores afirmaram utilizar essas ferramentas com regularidade em sala de aula.
Perguntado sobre o uso de ferramentas como a TarefaSP, incorporada pelo Governo de São Paulo e que permite a correção de 5% dos exercícios de estudantes do 8º ano do ensino fundamental e da 1º série do ensino médio por meio da IA, Khan disse estar impressionado. "Em um local com mais de um milhão de alunos, é muito difícil fazer grandes avanços. Acho que a cidade está fazendo um esforço heróico."
Diante do cenário que aponta para o aprimoramento das ferramentas nos próximos anos, o educador destacou a presença do docente, que estabelece contato com alunos com diferentes necessidades. "O professor continuará no controle, se dedicando às tarefas mais complexas", disse.
Para Khan, um dos desafios da implementação da tecnologia nas escolas tradicionais é o fato de, muitas das vezes, a instituição não definir com clareza o que espera alcançar com ela. "Quando eu era estudante havia um laboratório de informática [na minha escola]. Gastaram um valor alto para colocar os computadores lá. Mas ninguém os usavam ou usávamos apenas para jogar. E infelizmente, isso continua acontecendo. Acho que esse é o principal erro: não usar a tecnologia só porque parece moderno, mas ter uma ideia muito clara para que usá-la."
Outro problema apontado pelo educador é o fato do sistema de ensino, não apenas no Brasil, mas no mundo, possibilitar que os estudantes avancem de ano mesmo nos casos em que apresentam lacunas de aprendizagem. "Se você tem um professor e 30 alunos, é muito difícil preencher as lacunas de um deles individualmente. Conforme a turma avança, essas lacunas se acumulam. Se você é uma família de classe média ou rica, é possível pagar um tutor, mas o sistema escolar não tem isso", diz Khan.
Nesse cenário, a tecnologia, por meio da IA, é uma das estratégias para melhorar a aprendizagem de acordo com o americano. "Se os alunos têm dúvidas ou se o professor quer obter insights sobre o desempenho dos estudantes, acreditamos que a IA possa ser útil".
Ainda assim, o fundador da Khan Academy salienta que, para usar bem as ferramentas de IA, é essencial aprender habilidades tradicionais, como matemática, leitura e escrita. "As novas [habilidades] mais importantes serão: empreendedorismo, além de comunicação, senso de humor, criatividade e empatia. À medida que a IA fizer mais, essas habilidades humanas se tornarão ainda mais valiosas."