Outras séries similares aos “Bobbie Goods” já foram publicadas e há versões pirateadas em regiões de comércio popular de todo o Brasil. O sucesso dos livros também tem impulsionado a venda de canetas coloridas. Para especialistas em educação, a tendência é positiva por funcionar como uma alternativa relaxante ao uso excessivo de telas e propor vantagens que impactam positivamente os estudos. 

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Segundo Rebeca Veras, especialista de Formações Pedagógicas do SAS Educação, a popularidade de “Bobbie Goods” e afins pode ser explicada por diversos fatores. “Em um mundo cada vez mais digital e acelerado, atividades desconectadas e criativas como colorir oferecem momentos de relaxamento, ludicidade e foco. Além disso, os livros são visualmente atrativos, têm forte apelo estético e muitas vezes são promovidos por influenciadores digitais, o que amplia seu alcance. As imagens fofas e acolhedoras dos desenhos também estão alinhadas com a tendência do ‘cozy’ [aconchegante, em português], que valoriza o conforto e o bem-estar", observa. 

Estímulo à coordenação motora e à atenção 

Para George R. Stein, fundador e CEO da Pedagog.IA - Inovação em Aprendizagem, colorir auxilia na coordenação motora fina, fundamental para tarefas como escrever e manipular objetos. “Do ponto de vista cognitivo, a atividade estimula a atenção, o foco e a percepção visual, além de incentivar a criatividade e a expressão individual, pois cada escolha de cor e estilo é única”, pontua. 

Colorir ainda pode funcionar como uma forma de autorregulação emocional de crianças e adolescentes, ajudando a reduzir a ansiedade e o estresse ao proporcionar momentos de tranquilidade e concentração. “É uma oportunidade de se desconectar de pressões externas e se engajar em uma atividade prazerosa e livre de julgamentos”, comenta George. 

Ana Claudia Favano, psicóloga, educadora parental e gestora da Escola Internacional de Alphaville, também destaca o bem-estar emocional como um ganho relevante. "Atividades manuais como colorir podem estimular a mente, ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável pelo relaxamento, e reduzir o tempo de tela em qualquer idade. E ainda podem aproximar os adultos das crianças quando feitas coletivamente”, diz. 

Para Ana Carolina Souza, neurocientista da Nêmesis Neurociência, colorir é um estímulo de baixa complexidade e envolve uma atividade motora que exige movimentos repetitivos, o que induz à abstração. “Isso ajuda a aumentar a sensação de calma e a reduzir a ansiedade, favorecendo também o que chamamos de estado de fluxo [flow], que é quando a pessoa se envolve em uma atividade que considera engajadora e estimulante e que exige concentração”, fala. 

Benefícios se estendem à escola 

Um dos benefícios mais relevantes dos livros de colorir é a capacidade de concentração, sem a qual os alunos não são capazes de se manter atentos às aulas, o que prejudica seu aprendizado.  

Outro ponto é que, ao estimular a coordenação motora fina, colorir contribui para o desenvolvimento da escrita, tornando-a mais precisa e fluida. Além disso, a atividade exige atenção aos detalhes, habilidade essencial para o aprendizado em sala de aula.  

“O ato de colorir também pode melhorar a capacidade de organização e planejamento, já que a criança precisa escolher cores, delimitar espaços e seguir sequências. Esse tipo de raciocínio pode ser transferido para outras tarefas escolares, como a resolução de problemas matemáticos ou a elaboração de textos”, fala George. 

A redução da ansiedade e do estresse ajuda a criar um ambiente mental mais propício para o aprendizado. Crianças e adolescentes que conseguem se autorregular emocionalmente tendem a ter mais facilidade para lidar com desafios acadêmicos e sociais, o que impacta positivamente o desempenho escolar. O próprio fato de poderem trocar dicas e sugestões com outras crianças que compartilham a paixão contribui positivamente para a percepção de pertencimento e conexão social.   

Tendência tem lado negativo 

Nas redes sociais, conteúdos de influenciadores com técnicas de colorir extremamente elaboradas ou desenhos pintados com materiais de valor elevado podem gerar frustração e sentimentos de comparação e inadequação. 

É importante lembrar que o conteúdo postado é muitas vezes editado, cuidadosamente produzido e não representa a realidade. Pais, responsáveis ou adultos de referência podem ajudar os jovens a valorizarem o processo criativo, e não apenas o resultado, e promoverem o o a materiais dentro das possibilidades da família, reforçando que a criatividade e o bem-estar não dependem de produtos caros. 

Existe também um risco, apontado principalmente por alguns educadores de artes, de se limitar o desenvolvimento criativo artístico das crianças. “A constante exposição à desenhos padronizados com um nível alto de estética e detalhes pode desestimular a espontaneidade e a criação”, salienta George. 

 

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