"Os dados desta sexta-feira dão sinais de uma contaminação inicial do varejo pela depreciação cambial, especialmente em alimentos e industriais, enquanto o mercado de trabalho aquecido começa a pressionar os serviços subjacentes, em um processo de reinflação bastante disseminada", diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

O indicador oficial da inflação encerrou o último ano em 4,83%, abaixo do projetado pelo boletim Focus nesta segunda (6), que projetava a inflação a 4,89%. No entanto, acumulado ainda estoura a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) era de inflação a 3%, com margem de tolerância de 1,5% –  ou seja, até 4,50%.

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Expectativas

Para o começo desse ano a projeção é que IPCA mostre uma "falsa desaceleração", causada pelo bônus referente a comercialização da energia da parte brasileira da Usina de Itaipu.

Flávio Serrano, economista-chefe do banco BMG, explica que mesmo com o bônus, a inflação deve voltar a acelerar normalmente em fevereiro.

“O choque da alta dos alimentos ainda será sentido na inflação, acelerada pelo crescimento robusto da economia. Outro fator que levará ao aumento de preços é o câmbio, que ainda afeta de forma branda a inflação”, explica.

O dólar encerrou o ano em R$ 6,179, alta de 27,36% ao longo de 2024 após alta volatilidade anual, com uma desvalorização de 21,82% ante o dólar Ptax. Neste ano, analistas avaliam que o câmbio deve permanecer acima de R$ 6 durante o primeiro trimestre.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, fatores levam a crer que será muito difícil fugir desse cenário inflacionário.

“O Banco Central (BC) terá um esforço muito grande para conter as expectativas de uma inflação entre 4,5% e 5%. O risco é que, por mais um ano, a meta não seja cumprida, será muito difícil escapar desse cenário”, afirma.

O boletim Focus projetou que a expectativa do IPCA é encerrar  2025 em alta de 4,99%. Vale destaca que o aumento de juros é inevitável para o controle da inflação, especialmente sem ajuda da política fiscal.

“Ajuste da Selic com intensidade agora é necessário para evitar impacto mais à frente e evitar uma piora mais agressiva”, complementa.

Serrano também pontua que cenário com taxas de juros alta é inevitável durante o primeiro semestre.

“No segundo semestre, se tudo der certo, já será possível ver melhoras, uma vez que maior impacto sobre a economia já terá sido absorvido, com uma possível desaceleração. No entanto, somente em 2026 voltaremos para um nível perto do teto da meta de inflação”, afirma.

Inflação em 2024

A inflação no acumulado dos últimos doze meses foi pressionada principalmente pelo grupo de alimentação, representando 33% do total. O Núcleo sofreu com altas constantes devido aos efeitos climáticos, como o Lã Niña.

André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), afirma que o resultado do ano está em linha com o esperado e deve seguir pressionado.

“A aceleração de 2024 ficou muito concentrada em alimentos, que sofreram com fenômenos climáticos que afetaram o ciclo das chuvas, que prejudicaram a agropecuária, e também com problemas cambiais ao longo do último ano que afetam insumos do setor”, explica o economista.

A seca no Brasil entre 2023 e 2024 foi a “mais intensa da história recente”, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). Somado a isso, o La Niña, afetou o ciclo de chuvas e interferiu na recuperação agrícola após a estiagem severa dos últimos meses.

O grupo de alimentação e bebidas teve seu quarto aumento consecutivo em dezembro (1,18%). Braz aponta que a alta do IPCA de dezembro, que ficou em 0,52%, sofreu com questões sazonais que somaram-se a esses fatores.

“Dezembro é o mês de demanda mais forte que acaba pressionando especialmente o subgrupo das carnes, que já vinham com um ciclo de aumento muito forte, causado pelo ciclo da pecuária do final do ano e do aumento da demanda, devido ao aquecimento do mercado de trabalho”, disse.

As carnes afetaram o grupo de alimentação e bebidas em dezembro com alta de 20,84% no acumulado dos últimos 12 meses.

Os preços do grupo Alimentação e Bebidas foi responsável por mais de um terço da alta no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024.

Desde que o regime de metas de inflação foi adotado no Brasil em 1999, essa é a oitava vez que o objetivo foi descumprido, depois de 2022, 2021, 2017, 2015, 2003, 2002 e 2001.

Assim, o Banco Central terá que explicar ao governo os motivos de o objetivo não ter sido cumprido, e já prevê a chance de repetir a investida em julho diante das suas atuais projeções para os preços ao consumidor.

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