Foi também a primeira vez em mais de um ano que a projeção sofreu um corte, já que as expectativas de inflação sofrem deterioração há mais tempo e a correção dos juros foi acompanhando este processo.

Na próxima quarta-feira (07), o Copom vai decidir por mais uma alta da Selic, como já sinalizado desde o último encontro em março. Dos atuais 14,25%, ela deve subir pelo menos 0,50 ponto percentual, como espera a maioria do mercado. Além do tamanho da elevação, espera-se uma sinalização sobre os próximos os.

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Dado o grau de incerteza que paira, não só sobre a economia brasileira, mas sobre a internacional, muitos apostam que o comitê deixará as portas abertas.

As últimas declarações de diretores, inclusive do presidente Gabriel Galípolo, foram no sentido de valorizar duas premissas para atuação do Copom: cautela e flexibilidade. A primeira responde à imprevisibilidade do cenário atual.

A segunda, sobre o espaço de manobra que o BC precisará ter para lidar com os efeitos inesperados da política tarifária de Donald Trump e, aqui no Brasil, das medidas de estímulo fiscal do governo Lula.

A mudança na previsão para a Selic final deste ano responde a duas dúvidas que pairam sobre o efeito esperado da política monetária. A primeira diz respeito ao tamanho da dose necessária para promover a convergência da inflação à meta de 3% (o IPCA roda acima dos 5% atualmente).

Os dirigentes do BC vêm declarando, desde o último Copom em março, que a taxa já está restritiva, que é preciso entender os efeitos defasados do nível atual, mas que ainda falta uma dose a mais.

A segunda dúvida é sobre o tempo que o país terá que conviver com a Selic no patamar mais elevado desde agosto de 2016. Se o Copom confirmar elevação de 0,50 pontos percentuais na reunião desta quarta-feira (07), a taxa será a maior desde julho de 2006, há quase 20 anos. O Focus desta segunda-feira deixa em aberto duas possibilidades.

O BC pode optar por promover mais um ajuste para cima na Selic em junho, mas começar a cortar a taxa no final do ano. A segunda opção é encerrar o ciclo de aperto monetário esta semana e segurar os juros em 14,75% por mais tempo.

Impacto da queda do dólar

Um dos efeitos inesperados pela guerra tarifária de Trump foi o enfraquecimento do dólar. A moeda americana cai há semanas seguidas não só frente às divisas de países ricos, mas também dos emergentes como Brasil. A valorização do Real ajuda a estacar rees para muitos produtos e insumos importados. O limite para este efeito está nos preços das commodities.

O petróleo é o que sofre a maior queda desde o início do ano. Nesta segunda-feira (05), o preço do barril despencava mais de 3% no mercado internacional depois da decisão da OPEP + em aumentar a produção mundial.

A combinação dos dois fatores, queda do dólar e do petróleo, levaram a Petrobras a promover a segunda redução no preço do litro do diesel, em 4,6%, anunciada também nesta segunda-feira.

O mesmo não acontece com os preços das commodities agrícolas, que resistem num patamar mais elevado diante das incertezas sobre crescimento econômico nos países ricos e na China, a mais afetada pela guerra comercial. Outro fator que mantém a inflação brasileira pressionada é o mercado de trabalho doméstico, que segue aquecido, com alta do rendimento dos trabalhadores, o que deve manter a inflação de serviços elevada.

A decisão do BC brasileiro não é fácil e expõe o dilema enfrentado pelos banqueiros centrais do mundo. Teremos agora a chamada Super Quarta, quando coincide a decisão do Copom brasileiro e do FED americano.

A expectativa para a taxa dos EUA é de manutenção no atual patamar, entre 4,25% e 4,5%. Se Jerome Powell, presidente do FED, encontrar espaço para reduzir os juros por lá mais vezes em 2025, o Brasil pode encontrar espaço para promover quedas por aqui mais cedo. Diante do tamanho da incerteza que vivemos hoje, teremos que esperar mais algumas semanas para ter mais clareza sobre o futuro próximo.

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