Pedro Venceslau
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Pedro Venceslau

Pós-graduado em política e relações internacionais, foi colunista de política do jornal Brasil Econômico, repórter de política do Estadão e comentarista da Rádio Eldorado

Análise: Moinho e Túnel Santos-Guarujá unem Lula e Tarcísio em 2026

Possíveis adversários no ano que vem, presidente e governador dividirão duas vitrines eleitorais na campanha

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Possíveis adversários na disputa presidencial do ano que vem, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são parceiros em dois empreendimentos que trarão dividendos eleitorais em 2026: o Túnel Santos-Guarujá e o Parque do Moinho.

O governo federal tratou como uma vitória política o acordo com o Palácio dos Bandeirantes para a desocupação da Favela do Moinho, que será transformada em um parque. Mas foi a gestão Tarcísio que traçou uma estratégia complexa para desalojar o Primeiro Comando da Capital (PCC) do local (que servia de hub da droga para a Cracolândia), e deslocar as famílias dos barracos insalubres infestados por escorpiões para unidades habitacionais espalhadas pela cidade.

Assim como aconteceu no caso do túnel, o capítulo do Moinho começou com uma queda de braço e evoluiu para um acordo de cavalheiros.

Assim que a Secretaria de Patrimônio da União, que é dona do terreno, interditou a demolição das casas da comunidade, o ministro das Cidades, Jader Filho, começou as tratativas para desenhar uma parceria.

Registre-se: naquele momento o noticiário exibia manifestações de moradores contra a remoção apoiadas por políticos de esquerda.

O imbróglio terminou com a visita de uma comitiva multidisciplinar do governo federal desembarcando em São Paulo para alardear uma “vitória” que na verdade foi um acordo no qual a União vai pagar a maior parte da fatura.

O governo federal vai entrar com subsídio para as famílias na ordem de R$180 mil reais e o governo de São Paulo vai entrar com um recurso da ordem de R$ 70 mil, totalizando R$ 250.

Em 2026, Lula e Tarcísio terão que montar um palanque ecumênico para celebrar a chegada das primeiras famílias ao novo lar.

O caso do Túnel Santos-Guarujá é ainda mais emblemático.

O presidente Lula aceitou tirar do cargo de ministro de Portos e Aeroportos o aliado Márcio França (PSB), que é o nome mais bem posicionado da esquerda nas pesquisas em São Paulo, para colocar à frente da pasta Silvio Costa Filho (Republicanos), que é aliado de Tarcísio.

Ou seja: os principais cargos que movem a máquina em torno da vitrine do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) —uma obra gigantesca de R$ 6,3 bilhões — são do Republicanos, sigla do governador, exceto um.

O presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, é ligado a Márcio França, mas se entendeu com aliados do Republicanos e até com o governador, com quem viajou para a Europa para vender o projeto para investidores.