MC Poze do Rodo é preso por envolvimento com o Comando Vermelho • Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
“Delegado não entende a filha dele do meu lado, escondendo no sutiã MD e baseado”, "Pelo meus crias eu também mato e morro", “Respeita o CV que só tem bandido brabo, só menor de guerra".
Não há nenhuma dúvida que as letras das músicas do MC Poze do Rodo exaltam o tráfico, o crime e o Comando Vermelho, principal facção do Rio de Janeiro.
Mas seriam elas suficientes para garantir juridicamente uma punição para o funkeiro? Até onde vai a liberdade de expressão? A prisão definitivamente leva a cúpula da segurança pública do Rio de Janeiro para um terreno sensível, cheio de linhas tênues.
A Polícia Civil sustenta que o músico foi preso por "apologia ao crime e por envolvimento com o Comando Vermelho".
Em entrevista coletiva, o chefe da corporação, Felipe Curi, explicou a ação. "As músicas desse falso artista têm um alcance incalculável e muitas vezes são muito mais lesivas que o tiro de um fuzil disparado por um traficante", disse ele.
O argumento é de que as músicas são "instrumento de propaganda" do crime organizado. E Curi defende que a polícia não pratica censura ao restringir a liberdade do MC.
A prisão inaugura uma nova forma de agir da polícia fluminense. Vários outros músicos, especialmente ligados ao funk, já haviam sido presos em outros momentos. O motivo, no entanto, era outro.
Filho do chefe do CV, o rapper Oruam, já teve alguns problemas com a polícia. Ele foi preso duas vezes na mesma semana, em fevereiro deste ano, pelo delito de "favorecimento pessoal" e "direção perigosa". Nunca pelas letras ou pela defesa da liberdade do pai.
"Algemaram o Poze, nem precisa disso. O cara é exemplo para várias pessoas. Todo mundo sabe que isso aí é uma mentira. Ele é cantor. Ele canta em baile de favela. Ele não é envolvido com facção nenhuma, com todo respeito. Maior covardia mesmo", comentou Oruam sobre o amigo funkeiro.
O funk é uma indústria poderosa no Brasil. Envolve milhões de pessoas e movimenta muito dinheiro. Poze do Rodo acumula 5,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify. É um fenômeno. A polícia sustenta que ele fazia shows apenas em áreas do Comando Vermelho "enaltecendo e fomentando a prática de crimes, uso de armas, uso de drogas e disputas territoriais".
A prisão, para além de tudo, foi feita com uma verdadeira estratégia de comunicação. As imagens de Poze do Rodo sendo algemados e dos policiais no interior da mansão do cantor foram divulgadas amplamente pela imprensa. Ao ser preso, a polícia divulgou um vídeo com narração, artes e legndas, mostrando claramente um trabalho antecipado. A Polícia ainda convocou uma coletiva de imprensa para explicar a prisão.
Eles acusam o MC de propagar a "narcocultura". Guardem o termo. Ele ainda será explorado à exaustão e levantará muita polêmica.