Em tempos complexos, o protagonismo do Brasil na transição global para a economia de baixo carbono pode trazer um sopro de esperança e união para um mundo tão partido e também oportunidades econômicas e de negócios que podem se traduzir em prosperidade, emprego e renda para a população.
No dia 8 de maio, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, publicou uma carta convocando a comunidade internacional para uma nova etapa no enfrentamento da crise climática.
Ele nos chama a sair do discurso e partir para a ação, por meio de um “mutirão global” inspirado na sabedoria ancestral brasileira: um movimento coletivo, descentralizado e inclusivo, para colocar as soluções em prática e gerar impacto real.
O documento também destaca a importância de unir novas tecnologias digitais com as tecnologias ancestrais e enfatiza a relevância da agenda de ação. Uma carta quecria grandes expectativas para as próximas que deverão trazer um detalhamento de como estas promessas se concretizarão na prática.
No mesmo dia 8, também foi aprovado o Plano Nacional de Economia Circular (PLANEC), com mais de 70 medidas organizadas em cinco eixos estratégicos, que vão desde regulação e inovação até financiamento e gestão de resíduos.
A economia circular é um tema-chave e que, em geral, não tem recebido a atenção necessária nas COPs. Se por um lado, a transição energética e a redefinição dos processos produtivos devem seguir sendo prioridade no debate e, sobretudo, na ação; por outro lado, precisamos também mobilizar atores-chave do setor privado, público e social em ações urgentes e oportunidades concretas de ação relacionadas à demanda.
Segundo estudo da Ellen MacArthur Foundation, cerca de 45% das emissões globais estão relacionadas com materiais e consumo. Este segmento também representa grandes oportunidades econômicas, com potencial de gerar US$ 20 bilhões em valor para o PIB anualmente e mais de 1 milhão de empregos até 2030, segundo estudos do Instituto AYA e da Systemiq.
Uma pesquisa divulgada pela CNI revelou que 85% das indústrias brasileiras já praticam alguma forma de circularidade, mas também apontou desafios de financiamento, defasagem tecnológica e conscientização dos consumidores para acelerarmos a transformação.
Diante deste cenário, Janez Potocnik, co-chair do Internacional de Recursos (IRP) fez um “Chamado à Ação para uma Gestão Global de Materiais no Século XXI” ao propor ações bastante ambiciosas chamadas de “missões”:
1. Desacoplamento absoluto entre crescimento econômico e uso de recursos
2. Criação de uma Agência Internacional de Materiais
3. Reformas fiscais e eliminação de subsídios prejudiciais
4. Definição de metas globais de circularidade
5. Integração da gestão de recursos em acordos multilaterais
6. Promoção de modelos de negócios circulares
7. Reformas no comércio internacional
8. Educação e conscientização pública
Os benefícios esperados pela implementação das missões incluem: redução de até 30% na extração global de materiais até 2060, em comparação com as tendências atuais; diminuição de mais de 80% nas emissões de gases de efeito estufa associadas à extração e uso de recursos; e melhoria no bem-estar humano e redução das desigualdades globais, promovendo uma transição justa e equitativa.
Essas medidas visam não apenas mitigar os impactos ambientais, mas também promover um modelo econômico mais resiliente e sustentável para o século XXI.
Uma transformação sistêmica que pretende ir além da reciclagem ao adotar modelos econômicos regenerativos e inclusivos. O IRP destaca que a transição para uma economia circular é crucial para alcançar um futuro sustentável e equitativo para todos.
Nas inúmeras sessões de trabalho e plenária que acompanhei ao lado de representantes do IRP, Janez destacou que precisamos do consumidor e da natureza no centro e repetiu enfaticamente: “o futuro será verde ou não será”.
A economia circular é uma das principais alavancas dessa transformação. Ela nos convida a romper com o modelo linear de desperdício e a construir novas cadeias de valor, mais resilientes e integradas com a natureza.
O Brasil tem o conhecimento, os recursos e o potencial para liderar esse movimento global. A COP30 é a nossa chance de mostrar isso ao mundo — com ação, propósito e protagonismo. Mas para que esta transformação aconteça será necessário sairmos do discurso e dos relatórios para a prática, prática que acontece de fato quando gera oportunidades reais de emprego e renda para a população.
Será que conseguiremos trazer esta prática à COP30?
É com esse espírito de mobilização e construção coletiva que dou início à minha jornada como especialista COP30 para a CNN Brasil, contribuindo com reflexões, dados e histórias sobre os caminhos possíveis para uma transformação ecológica justa, regenerativa e inclusiva. Que possamos mostrar ao mundo que esse futuro já chegou e que Brasil é a potência verde que o mundo precisa.