A ação foi apresentada no Distrito Central da Flórida. O documento, obtido pela CNN, tem 62 páginas e afirma que Moraes violou a Primeira Emenda da Constituição dos EUA ao emitir "ordens secretas de censura extraterritorial" contra usuários e plataformas sediadas em território americano.
O documento cita o inquérito das fake news como instrumento para Moraes perseguir adversários do presidente Lula, e o caso recente de abertura de investigação contra o Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal licenciado que está morando nos Estados Unidos.
Segundo os autores da ação, Moraes teria agido de forma ilegal ao aplicar leis brasileiras sobre liberdade de expressão nos Estados Unidos, forçando empresas como a própria Rumble a remover conteúdos e bloquear usuários por determinação do STF.
A CNN procurou o Supremo Tribunal Federal, mas até o momento não houve posicionamento do tribunal.
“Ao exigir que empresas americanas cumpram ordens sigilosas, sob pena de sanções no Brasil, Moraes ultraou sua autoridade e feriu garantias constitucionais dos EUA”, diz a petição.
“Permitir que ele silencie um usuário barulhento em um canal digital americano colocaria em risco o compromisso fundamental do nosso país com o debate aberto e robusto”, complementa.
A petição faz seis pedidos principais à Justiça americana, entre eles:
Na visão da Trump Media, Moraes teria tentado obrigar a Rumble a aceitar notificações judiciais brasileiras e até a nomear um representante legal no Brasil, mesmo sendo uma empresa sediada na Flórida sem operação direta no país.
A Trump Media argumenta que Moraes agiu ultra vires — ou seja, "além do escopo de sua autoridade legal" — ao tentar aplicar as leis brasileiras de liberdade de expressão em solo americano.
Para interlocutores da Trump Media com quem a CNN conversou, o caso é um teste “histórico” para verificar o alcance da legislação americana sobre episódios que podem conter excesso de poder judicial estrangeiro e de responsabilização pessoal de juízes de outros países que violam as leis dos Estados Unidos.
"Permitir que o Juiz Moraes silencie um usuário barulhento em um canal digital americano colocaria em risco o compromisso fundamental do nosso país com o debate aberto e robusto. Nem ditames extraterritoriais nem a interferência judicial estrangeira podem anular as liberdades protegidas pela Constituição e pela lei dos Estados Unidos", diz trecho da petição.
A ação também critica o inquérito das fake news, aberto pelo STF em 2019 e conduzido por Moraes, que é apontado no texto como um instrumento de perseguição política.
“O inquérito se expandiu para muito além de qualquer escopo investigativo legítimo, sendo usado para silenciar críticos do governo e da Corte”, afirma a empresa. “Ordens judiciais sigilosas obrigam plataformas com sede nos EUA a banir usuários por alegações de discurso ‘antidemocrático’.”
A Rumble alega ainda que essas ordens impactam diretamente sua operação, servidores e relações comerciais, afetando também a Trump Media, que utiliza a infraestrutura da plataforma.
"Alexandre de Moraes direcionou propositalmente sua conduta para empresas sediadas na Flórida e seus servidores, data centers, operações e relacionamentos com usuários localizados neste Distrito. (...) As Ordens de Silêncio exigem a suspensão e proíbem a criação de contas, exigem que a Rumble forneça informações sobre os titulares das contas, impõem multas diárias e obrigam o fechamento da Rumble no Brasil — uma empresa da Flórida com servidores localizados neste Distrito — e potencialmente em outros lugares", diz o documento.
"O cumprimento das Ordens de Silêncio exigiria que a Rumble fizesse alterações nesses servidores, o que prejudicaria diretamente a TMTG [Trump Media & Technology Group] — cuja plataforma online global depende, em parte, desses servidores e também está sediada na Flórida", continua.
A petição cita a investigação aberta contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autorizada por Moraes a pedido do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Para a Trump Media, trata-se de mais um exemplo de “tentativa de silenciar opositores” mesmo quando suas ações ocorrem nos EUA.
“Apesar da proteção legal das atividades de Eduardo pela lei americana, Moraes autorizou uma investigação criminal para reprimir dissidência política fora do território brasileiro”, argumenta o texto.
"Desde 2022, Moraes teria ordenado a suspensão de quase 150 contas de mídia social, visando uma ampla gama de indivíduos, incluindo autoridades eleitas, jornalistas, profissionais do direito, artistas e cidadãos em geral. A esmagadora maioria desses alvos são críticos do presidente Lula e de Moraes", acrescenta.
Outros nomes citados como alvos das decisões de Moraes são os jornalistas Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino, além da ex-juíza Ludmilla Grilo. A empresa afirma que todos sofreram sanções como suspensão de contas, bloqueio de bens ou inclusão em investigações sigilosas com motivações políticas.
"O caso de Eduardo ilustra ainda mais um padrão de repressão política que visa pessoas e discursos residentes nos EUA, como parte da campanha contínua de censura e excesso de poder judicial do Juiz Moraes. Ele se junta à crescente lista de dissidentes políticos", diz o documento.