Isso porque o presidente eleito já se prepara para retirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris, o tratado que norteia as ações globais contra as mudanças climáticas.
Além disso, ele também promete adotar políticas que vão aumentar a exploração e uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás – responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, que levam ao aquecimento global.
Tudo isso vai contra os esforços recentes de combate às mudanças climáticas e os objetivos desta COP29.
O principal assunto da cúpula mundial do clima deste ano é o financiamento global para o combate às mudanças climáticas a partir de 2025.
Ou seja, o encontro deveria definir questões como:
Todos esses pontos substituiriam o atual acordo de que os países desenvolvidos deveriam destinar pelo menos USD 100 bilhões por ano para ajudar o mundo em desenvolvimento a financiar ações climáticas. Esse acordo acaba no ano que vem e sua meta nunca foi totalmente alcançada.
Essas novas negociações, no entanto, perdem impacto com as recentes promessas de Trump –até porque elas enfraquecem qualquer posição que venha a ser assumida pelos negociadores americanos que foram enviados a Baku pelo atual presidente, Joe Biden.
E a mudança de posição dos Estados Unidos terá grande impacto, já que o país é fundamental no debate sobre clima por três grandes motivos:
Além de enfraquecer a posição dos negociadores na COP, a posição de Trump também estimula outros governos a diminuírem o seu próprio comprometimento com a causa do clima.
“Você retira da mesa de debate, da mesa de negociação, um país extremamente importante. E ainda cria um efeito para os países que não querem que a coisa evolua. Os países que não querem tomar ação se sentem muito mais confortáveis (nessa posição), uma vez que um gigante como os os EUA não fará a sua parte. Esse efeito causa um impacto muito negativo”, disse à CNN o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
Segundo Astrini, a posição “negacionista” de Trump cria dois grandes problemas: “deixamos de ter qualquer esperança de que os Estados Unidos venham a contribuir para a solução e o país ainda a a adotar ações, como o uso de mais petróleo e mais emissões, que vai aumentar o problema”.
Essa é a mesma posição de Elisabetta Cornago, pesquisadora sênior do Centre for European Reform.
Segundo ela, "pressionar por financiamento climático mais ambicioso será quase impossível sem a adesão dos EUA, o que vai acabar com a motivação dos países em desenvolvimento de levar a sério as ambições climáticas do Ocidente", diz ela.
Essas declarações apontam para o clima geral de desânimo entre os delegados que já estão chegando a Baku.
A única chance, dizem vários deles, é ter uma resposta mais efetiva de vários outros grandes blocos como a União Europeia e mesmo a China.
A secretária de estado da Alemanha para ação climática internacional, Jennifer Morgan, reconhece o desafio e diz que caberá à Alemanha e à União Europeia manter a liderança nas discussões sobre financiamento climático para garantir um resultado aceitável.
Dificilmente, no entanto, os europeus terão interesse em aumentar ainda mais suas contribuições para compensar aquilo que os Estados Unidos deixarão de oferecer.